o desconexo

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17.1.11

candeia que vai à frente


Os últimos tempos foram preenchidos de referências aos mais variados tipos de expressão (escrita) sobre arquitectura. Liste-se: a Log da Cinthia Davidson na crista da onda com 'Curating architecture'; a ficção de Pedro Gadanho como construção crítica de Once upon a place; a reflexão do mesmo autor em 'Del curare architettura come pratica critica'; o debate académico-profano da invasão-crítica blogger em Critical Futures em Londres (com mais dois debates num futuro próximo); o português JA 239 com Ser crítico (jornal que já tinha feito um exclusivo no numero 211); e também, no âmbito das questões regionais, o Do sabor da crítica no blog d'as Catedrais. Ou ainda, na vizinhança, o 'À quoi pense l'arte contemporain?' da Critique e o Text zur kunst 74 com 'Statements on contemporary art'.

No cimo da pilha de eventos estou a digerir a publicação da Anyone Corporation e a pequena entrevista de Pedro Gadanho ao blog da BIArch que sumariza a tendência: 'curating is the new criticism'. A nova tendência, diz Gadanho, é o exercício curatorial como prática.
A percepção do mundo da arquitectura vai privilegiar-se através da exposição, da disposição das peças, dos textos, das imagens, e principalmente, do juízo. Afinal, poder-se-ia dizer que o exercício de crítica de arquitectura através do gesto curatorial tratará essa problemática. No lugar do texto escrito, o crítico vai expor o seu juizo.

Talvez com largos anos de atraso em relação às correntes artisticas onde o próprio artista experimenta o comissariado há muito tempo, não se descobriu a pólvora, mas esta é uma tendência que se vê iluminada pelos holofotes dos últimos momentos. O comissariado como crítica e como forma de produção arquitectónica é emocionante e suficientemente interessante para assumir o monopólio das próximas reflexões. Não só tem q.b. de dramatismo, como também levanta uma série de questões...

Será, ou não, ambíguo afirmar que o projecto de arquitectura tem uma condição, à partida, importável? Será que a arquitectura, enquanto projecto e objecto exposto, expõe-nos à impossibilidade da sua exposição? Será que à semelhança do vídeo de uma performance artística, o visitante dificilmente presenciará a totalidade do projecto porque a ideia de expor arquitectura, na sua condição absoluta, roça a impossibilidade?

Será o caminho do exercício curatorial mais operativo do que os mecanismos vulgares do discurso escrito? Irá o contéudo crítico sair ainda mais encriptado em relação à prática do texto? Poderá a vontade crítica ser mais operativa? O que vão fazer os Olbrists e os Szeemans da arquitectura? Como é que os comissariados poderão fixar 'a new agenda'? Como é que a capacidade criativa da crítica vai usar as potencialidades das ferramentas curatoriais? Será possível mapear os inputs da prática curatorial na produção de projecto num determinado contexto? Vamos falhar redondamente as possibilidades críticas de um projecto curatorial? Ou pode a afirmação de Gadanho ter uma efectivação concreta?

Se calhar pode... to find out how.

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